"A casa é sua, irmão". Este foi o espírito do convite feito pela população da Bahia para recepcionar Nelson Mandela na capital mais negra do Brasil, no evento realizado na praça Castro Alves, no dia 3 de julho de 1991, quando se espremeram cerca de 150 mil pessoas para escutá-lo.
Mandela veio apenas uma vez à Bahia e ficou um dia em Salvador. Ao chegar, foi recebido com festa no Aeroporto Dois de Julho, seguindo para o Palácio de Ondina, onde foi recepcionado com um almoço pelo então governador Antonio Carlos Magalhães. Fez um breve passeio pela cidade, até ser levado para seu encontro com seus admiradores baianos, na "praça do povo".
E a trilha sonora deste emocionante encontro na Castro Alves só poderia ser as músicas criadas e executadas por artistas baianos, ao longo da década de 80, clamando pelo fim do Apartheid e pela liberdade do ativista negro.
"Nelson Mandela tem uma simbologia que ultrapassou as cores e ideologias. E sua vinda à Bahia foi o reconhecimento aos que lutaram com ele, mesmo separados por um oceano", declarou Sílvio Humberto, um dos criadores do Instituto Steve Biko.
Ligação
Ilê Aiyê, Olodum e Muzenza surgiram na década de 1970, quando os primeiros grupos de negros começaram a lutar por sua afirmação na Bahia. João Jorge, presidente do Olodum, integrou o Comitê de Recepção Nelson Mandela.
Ele lembra do show musical oferecido ao líder sul-africano, incluindo a execução do hino do Congresso Nacional Africano, Nkosi Sikelel' iAfrica, gravado no disco do bloco "Do deserto do Saara ao Nordeste Brasileiro", em 1989.
"O Olodum talvez seja a entidade negra na Bahia com maior ligação com Nelson Mandela e com a África do Sul. O país foi tema do bloco em duas ocasiões e mantemos relações com os presidentes que sucederam Mandela", lembra João Jorge. O auditório da Casa do Olodum leva o nome de Mandela e abriga livros e lembranças de sua trajetória e da passagem pela Bahia.