Sinceramente, hoje o time que poderia servir de base é o Corinthians. É um time que está sem nenhum craque, mas vem jogando bem, tem vencido, provando que é forte.
"O Corinthians tem jogadores que não são como um Neymar, mas é um time que tem base. Se você junta um Neymar com um time que tem base melhora bastante."
Essas declarações foram premonitórias. Dadas por Pelé, em março de 2013, quando o Corinthians havia vencido a Libertadores e o Mundial. E Felipão buscava ainda um time para a Copa de 2014. Ficou sem encontrar.
Dois anos e sete meses depois, Dunga optou por um quarteto corintiano. Cássio veio se juntar a Gil, Elias e Renato Augusto. Nenhum pode ser chamado de 'craque'. Mas premiam o futebol coletivo, de competição da filosofia de Tite.
Na convocação de Dunga para a partida dificílima do Brasil, contra a Argentina, dia 12, em Buenos Aires, o treinador pode sim aproveitar três jogadores juntos. Gil deveria ser o companheiro de zaga de Miranda. Ele está muito melhor do que o lento David Luiz. E Marquinhos, apesar da excelente impulsão, sofre com a estatura. O zagueiro corintiano vive o auge de sua carreira. Aos 28 anos, está vivido, firme tanto por cima como por baixo. E mostra muito mais personalidade, confiança. Se o marketing não pesar, deveria ser o titular. Pelo menos Dunga, já se livrou da instabilidade batizada de Thiago Silva.
Elias já é seu titular. Mas o treinador precisa se definir. Se for para o volante atuar como contra o Chile, amarrado no meio de campo brasileiro, que coloque de vez um brucutu. Agora, caso for escalado com liberdade, modernidade, como faz no Corinthians, e mostrou um pouco diante da Venezuela, a escolha se justifica. Elias é o sonho de consumo de qualquer treinador com visão atual do futebol. Capaz de marcar firme, cobrir as laterais, mas também de tabelar, surgir na área e ter sangue frio diante do goleiro adversário. Dunga precisa saber explorar esse potencial.
Agora, o que está fazendo com Renato Augusto é uma heresia. É preciso deixar de se deslumbrar porque um atleta atua na Europa. Se ele gosta de um 'cão de guarda' à frente da zaga, que insista com o limitado Luiz Gustavo. Agora, o melhor trio de jogadores nascidos neste para preencher o meio de campo é formado por Elias, Renato Augusto e Lucas Lima. Ponto final. Se os três atuam no Brasil, sorte de quem pode vê-los atuando.
Oscar vive uma péssima fase no Chelsea. Willian foi muito bem diante da Venezuela. Que atue pelo lado direito do campo. E deixe o meio e o esquerdo para a verdadeira estrela do time, Neymar, finalmente livre de sua suspensão. Pronto. O Brasil atuando no 4-1-3-2, sem um atacante fixo na área. Um time com muita mobilidade pelas laterais. Com coragem de: ou liberar Danilo, ou corrigir a impetuosidade/irresponsabilidade de Daniel Alves. Do outro lado, Marcelo. É muito medo colocar o especialista de marcação Filipi Luis.
O entrosamento na movimentação entre Elias e Renato Augusto é algo importante demais para ser desperdiçado. Individualmente, com a bola nos pés, o corintiano é um dos jogadores mais inteligentes deste país. Com condições físicas ideais, livre finalmente das contraturas e distensões musculares, preenche os espaços com maestria. Está na hora de Dunga se livrar do pedigree que exige a camisa de um clube europeu para ser titular.
Se ele acerta nas convocações, use o que tem nas mãos. Chamar para tentar apenas ganhar a simpatia da mídia, e não usar, é uma enorme bobagem. Jogador de futebol é muito esperto. Os que costumam frequentar as listas de convocados sabem. O treinador é muito ligado em Oscar. O considera excelente. Mas o treinador precisa ter o mínimo de bom senso. E reconhecer a fraca fase do meia. Está muito abaixo tanto de Renato Augusto como Lucas Lima.
Se for para jogar enfiado, dando trombada nos zagueiros, como detesta e se torna pouco produtivo, o melhor é deixar Hulk no banco. Atuar pela direita, para bater ao gol de perna esquerda, é impossível. Roubaria o espaço de Willian. Ricardo Oliveira é muito melhor na posição. Isso se Dunga acreditar que precisa um atleta enfiado, de referência. Tem a mobilidade e imprevisibilidade de Elias, Lucas Lima, Renato Augusto, Willian e Neymar. Basta ter visão e coragem de utilizá-los.
Cássio também não fica nada a dever a Jefferson ou Alisson. Mas como está chegando à Seleção agora, tudo bem se ficar na reserva. Sua convocação foi muito justa.
A CBF de Marco Polo del Nero pediu para utilizar o CT do Corinthians, reino do seu inimigo maior, Andrés Sanchez. Preparar o time por lá para a partida contra Argentina. Ficará entre os dias 9 e 11.
"A mudança é uma questão de logística. Nas Eliminatórias de 2010 os jogadores se apresentavam na segunda e nós só íamos jogar no sábado. Hoje, os jogadores se apresentam na segunda ou na terça e nós já jogamos na quinta. Se tivéssemos que ir até a Granja, iríamos perder muito tempo. Ficarmos em São Paulo, perto do aeroporto, facilita muito a logística de deslocamento. É uma equação que envolve uma série de coisas para a decisão", justificou Dunga.
Na base do toma lá, dá cá, o Corinthians está perto de conseguir uma vitória nos bastidores. A partida contra o Peru, será na terça-feira, dia 17 de novembro. Na quarta-feira, dia 18, a tabela do Brasileiro marca Vasco e Corinthians no Rio. A pedido de Tite, a diretoria exigiu que a CBF adiasse o confronto para a quinta-feira, dia 19. Tendo dois dias de descanso, a presença do quarteto convocado estaria garantida. E será o que deve acontecer.
A relação entre Corinthians e Seleção nunca esteve tão próxima.
Só falta coragem e visão para Dunga.
Gil, Elias e Renato Augusto merecem ser titulares do Brasil...
"Só convocar não adianta. Dunga precisa ter coragem e escalar Gil, Elias e Renato Augusto como titulares da Seleção Brasileira. Pouco importa se jogam pelo Corinthians e não no Barcelona, Bayern, Chelsea?"