Uma série de ataques coordenados em diversos pontos em Paris deixou pelo menos 129 mortos e 352 feridos na noite de sexta-feira, segundo informações de autoridades francesas.
A seguir, o que se sabe até o momento sobre a tragédia, suas consequências e repercussão:
O grupo extremista autodenominado "Estado Islâmico" assumiu a autoria dos ataques por meio de um comunicado escrito em francês e árabe e também divulgado em uma versão em áudio. O anúncio aponta que os ataques foram uma resposta ao envolvimento da França em ataques aéreos contra militantes do EI na Síria e no Iraque.
"Oito irmãos usando coletes com explosivos e fuzis tinham como alvo lugares da capital francesa escolhidos com cuidado." O texto prossegue afirmando que Paris é a "capital da abominação e da perversão".
"Em um ataque facilitado por Alá, um grupo de fiéis e soldados do califado - que Alá lhe dê poder e vitória - tinham como alvo a capital da abominação e perversão, aquela que carrega a bandeira da cruz na Europa, Paris."
No entanto, segundo o Ministério Público da França, eram na verdade sete atiradores fortemente armados e usando cintos com explosivos. Eles estavam divididos em três grupos. "Temos que descobrir de onde eles vieram e como foram financiados", disse o promotor François Molins.
Autoridades francesas informaram que sete dos atiradores morreram. A polícia forense busca estabelecer a identidade dos atiradores por meio de seus restos mortais e outras evidências. Fontes do governo britânico disseram à BBC que eles fariam parte de uma célula independente do EI e que teriam viajado para a Síria.
Segundo fontes envolvidas na investigação francesa, um dos perpetradores do ataque à casa de shows Bataclan foi identificado por suas digitais. Ele era francês e tinha histórico de envolvimento com uma ala radical do Islã e conhecido pelas forças de segurança do país. Nascido em 1985 em um subúrbio de Paris, já fora condenado por diversos crimes.
A mídia francesa também reportou que um passaporte sírio pertencente a uma pessoa nascida em 1990 foi encontrado junto com o corpo de um dos autores do ataque ao Stade de France.
O governo grego informou que o detentor do passaporte sírio entrou na União Europeia pela ilha de Leros em 3 de outubro. No entanto, é importante lembrar que existe um amplo comércio ilegal de passaportes sírios em curso, e ainda não se sabe se o documento pertenceria de fato ao extremista.
Um passaporte egípcio também foi encontrado próximo de outro atirador no estádio. Em entrevista ao jornal Le Parisien, um dos espectadores do jogo entre as seleções da França e da Alemanha afirmou que um dos atiradores era mulher.
A polícia francesa está em busca de um carro preto que teria sido usado nos ataques. Outro veículo da mesma cor encontrado do lado de fora do Bataclan também estaria envolvido. Ele está registrado em nome de uma pessoa que vive na Bélgica.
Esta pessoa foi detida na fronteira da Bélgica, em um veículo com outras duas pessoas. Todas moram nos arredores da capital Bruxelas e foram interrogadas. Nenhuma delas é conhecida pela forças de segurança. Também na Bélgica, houve uma série de prisões após os ataques em Paris, segundo o governo.
Um francês de 41 anos foi preso no aeroporto de Gatwick, em Londres, por estar portando o que "parecia ser uma arma", segundo a polícia. O terminal norte foi evacuado e voos foram cancelados após um alerta de segurança, mas já voltou a operar normalmente.
"O homem está sendo entrevistado para determinar as circunstâncias do incidente, mas ainda é cedo para dizer quais eram suas intenções. No entanto, o que ocorreu em Paris faz com que isso tenha de ser tratado com muita seriedade", diz o detetive Nick May.
O número oficial de mortos até o momento é de 129. Entre elas, além de franceses, há ao menos um inglês e cidadãos da Bélgica, Suécia e Portugal. Pelo menos outras 352 pessoas ficaram feridas, entre elas dois brasileiros - 99 pessoas estão em estado grave.
Entre os diversos pontos atacados nesta sexta-feira, o com o maior número de mortos foi a casa de shows Bataclan, localizada no 11º distrito, na região central de Paris.
Atiradores tomaram o local e abriram fogo contra o público, matando pelo menos 80 pessoas. Outras pessoas foram mortas em um suposto ataque suicida nos arredores do Stade de France e em ataques em bares e restaurantes no centro da capital francesa.
Os locais que foram alvo de ataques em Paris são:
O governo francês declarou estado nacional de emergência e fechou as fronteiras. Voos e trens, no entanto, estão operando. O ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, deu permissão para que autoridades locais imponham toque de recolher se considerarem necessário.
A Rússia avaliar restringir os voos entre Moscou e Paris, de acordo com a agência de notícias RIA. Medidas de segurança em meios de transporte serão implementadas em todo o território russo.
A Itália também adotou medidas especiais, segundo o premiê Matteo Renzi, e realizará uma reunião emergencial do conselho nacional de segurança para avaliar a situação.
O presidente francês François Hollande disse que os ataques são um "ato de guerra" e que eles teriam sido planejados e organizados a partir do exterior e com ajuda advinda de dentro da França. Ele decretou três dias de luto oficial.
Marine Le Pen, líder do partido de extrema direita Frente Nacional, disse que está "chorando junto com a França por seus mortos". "Pela sexta vez em 2015, o terrorismo islâmico atingiu nosso país. É essencial que a França reassuma o controle de suas fronteiras, definitivamente. O Islã fundamentalista deve ser destruído, mesquitas radicais fechadas, e os imãs radicais, expulsos."
A presidente Dilma Rousseff disse estar "consternada com a barbárie terrorista" e repudiar a violência. Ainda manifestou seu apoio ao povo e ao governo francês.
Em resposta aos ataques, o presidente americano, Barack Obama, disse se tratar de uma "revoltante tentativa de aterrorizar civis inocentes" e convocou uma reunião do conselho nacional de segurança do país.
No Reino Unido, o premiê David Cameron disse os ataques foram o "pior ato de violência contra a França desde a Segunda Guerra". Ele afirmou que a ameaça representada pelo EI está evoluindo e se tornando mais grave e que ela paira também sobre os britânicos. "Vamos redobrar nossos esforços para exterminar esta ideologia extremista tóxica."
Ahmad al-Tayyib, o grande imã de Al-Azharm, uma das principais autoridades sunitas do mundo islâmico, disse condenar fortemente os ataques em Paris, segundo a agência de notícias Mena, e disse que o Islã é inocente perante as acusações de terrorismo, pedindo uma cooperação internacional para combater estes atos.
O premiê israelense Binyamin Netanyahu disse que seu país "está ao lado da França e seu povo na batalha em comum contra o terrorismo".
Em Moscou, o presidente Vladimir Putin enviou um telegrama para Hollande em que afirma que a "tragédia é outra evidência da natureza bárbara do terrorismo, que representa um desafio para a civilização humana". "É óbvio que a luta contra este mal requer um esforço conjunto de toda a comunidade internacional. Espero que os culpados sejam punidos."
Bashar al-Aassad, presidente da Síria, divulgou um comunicado em que afirma que o ataque de "terrorismo selvagem" à França é o que "o povo sírio vem suportando há mais de cinco anos".
O comércio ficou fechado neste sábado e diversos eventos foram cancelados. Ainda assim, as escolas abrirão na segunda-feira, quando será feito um minuto de silêncio em luto pela tragédia.
Em Paris, moradores e turistas foram orientados a não sair às ruas. Mais de mil militares e 30 mil policiais estão espalhados pelas ruas, e prédios públicos estão sob proteção especial.
Qualquer tipo de manifestação ou protesto público está proibido na capital francesa e seus arredores até a próxima quinta-feira. Segundo a polícia, aqueles que planejam organizar eventos deste tipo em locais privados devem adiá-los ou reforçar sua segurança.
O maior ícone da cidade, a Torre Eiffel, está fechada por tempo indeterminado. Os hospitais estão pedindo doações de sangue. Imagens compartilhadas nas redes sociais mostram que a população vem atendendo em peso este pedido, com longas filas de doadores na porta de hospitais.